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  • Mário de Sá-Carneiro

    Distante melodia • Orpheus N°1 - Para os "Indicios de oiro" - 06

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Num sonho d'Iris, morto a ouro e brasa,
Vem-me lembranças doutro Tempo azul
Que me oscilava entre véus de tule—
Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.
 
Então os meus sentidos eram côres,
Nasciam num jardim as minhas ansias,
Havia na minh'alma Outras distancias—
Distancias que o segui-las era flôres…
 
Caía Ouro se pensava Estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me…
Noites-lagôas, como éreis belas
Sob terraços-liz de recordar-me!…
 
Idade acorde d'Inter sonho e Lua,
Onde as horas corriam sempre jade,
Onde a neblina era uma saudade,
E a luz—anseios de Princesa nua…
 
Balaústres de som, arcos de Amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume…
Dominio inexprimivel d'Ópio e lume
Que nunca mais, em côr, hei de habitar…
 
Tapêtes doutras Persias mais Oriente…
Cortinados de Chinas mais marfim…
Aureos Templos de ritos de setim…
Fontes correndo sombra, mansamente…
 
Zimbórios-panthéons de nostalgias…
Catedrais de ser-Eu por sobre o mar…
Escadas de honra, escadas só, ao ar…
Novas Byzancios-alma, outras Turquias…
 
Lembranças fluidas… cinza de brocado…
Irrealidade anil que em mim ondeia…
—Ao meu redór eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia…
 

 

Mário de Sá-Carneiro: Top 3
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