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  • Manoel de Barros

    XIX O rio que fazia uma volta...; VII Descobri aos 13 anos...; IV Autorretrato falado • O livro das ignorãças

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Paroles originales

paroles de XIX O rio que fazia uma volta...; VII Descobri aos 13 anos...; IV Autorretrato falado

XIX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um
vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: essa volta que o rio faz por trás de
sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta
atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
 
VII
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
-Gostar de fazer defeitos na frase é muito
saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resta da
vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? –ele continuou.
Que sim, respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas–
Pois é nos desvios que encontram as melhores
surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor
de agramática.
 
IV Autorretrato falado
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da
Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de
estar entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
sinto como que desonrado e fujo para o
Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo
que fui salvo.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só
faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
 

 

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