• Manuel de Freitas

    Cronofobia → Italian translation

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    French, Italian
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Cronofobia

Sou contemporâneo de Villon
e escrevo às vezes a Montaigne,
arguto mas demasiado absorto
no renome e na sabedoria instável
dos seus livros anotados.
 
Ouvi ontem, junto de Lady Nevell,
as últimas composições de Byrd
para virginal e pareceram-me
– a primeira pavana, sobretudo –
uma dádiva excessiva à posteridade.
 
Escrevo estas linhas agora
outrora, olhando de frente
o crepúsculo e as poucas nuvens
que toldam, por desfaçatez,
o céu irremediável de Janeiro.
 
Corre entretanto o boato de que
Castela se apossou de Portugal
e houve até um poeta obscuro
que preferiu morrer antes disso,
em versos de imponderável beleza.
 
Não sei. O vinho cola-se-me uma vez mais
aos lábios, cansados peregrinos do amor,
e um galgo aproxima-se devagar
da mão que nunca lerá José Saramago.
 
Translation

Cronofobia

Sono contemporaneo di Villon
e scrivo talvolta a Montaigne,
arguto ma troppo preoccupato
per il prestigio e la precaria saggezza
dei suoi libri chiosati.
 
Ieri ascoltavo, insieme a Lady Nevell,
le ultime composizioni di Byrd
per virginale e mi sono sembrate
– la prima pavana, soprattutto –
un dono eccessivo alla posterità.
 
Scrivo queste righe ora
ed allora, guardando davanti
il crepuscolo e le poche nuvole
che offuscano, per sfacciataggine,
il cielo irrimediabile di Gennaio.
 
Frattanto corre voce che
Castela si sia impossessato del Portogallo
e ci sia perfino stato un poeta oscuro
che preferì morire prima di questo,
con versi d’incommensurabile bellezza.
 
Non so. Il vino mi s’incolla un’altra volta
alle labbra, stanche pellegrine d’amore,
e un levriero s’avvicina lentamente
alla mano che mai leggerà José Saramago.
 
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